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quarta-feira, 19 de março de 2008

A dignidade já tem um preço

António, Mendes, Professor

A senhora ministra da Educação anunciou ao país que não suspende nem adia a avaliação dos professores e expôs duas razões maiores: a avaliação atribui a dignidade que os professores merecem e é um importante instrumento na gestão de recursos humanos. Foi um acto de coragem ou de cosmética política?

Se contra factos não há argumentos, aqueles negam que seja coragem: só 5 % dos professores serão avaliados este ano. E se é um acto de bravura política, que dizer da ausência e silêncio do senhor primeiro-ministro?

Admitamos que foi um acto de cosmética política. O silêncio do Governo ganha logo outro significado, o de pura prudência política: afastando-se da equipa ministerial tão contestada, poupa-se a própria imagem pública a escassos meses de eleições.

A senhora ministra é, certamente, uma pessoa de bom senso e nunca mentiria deliberadamente ao país dizendo-lhe que não recuava ao mesmo tempo que mandava as escolas adiar o processo de avaliação. Portanto, as suas palavras só têm um significado: há um compromisso tácito entre o Ministério, o Conselho de Escolas e os sindicatos.

O brinde deste acordo é a reabilitação moral de um interlocutor negocial que mantém que é este modelo de avaliação que redime os professores da condição de classe profissional sem brio ou prestígio.

Porém, a ênfase na criação de condições para aligeirar o horário de trabalho de titulares e coordenadores responsáveis pela avaliação bem como o anúncio de um prémio remuneratório para os avaliadores, a acrescer ao mérito raro de em geral só terem 18 anos de serviço e muitos cargos, desmascara o verdadeiro preço a pagar pela paz nas escolas: a integridade ética, a dignidade de ousar seduzir e conduzir pessoas até ao seu pleno desenvolvimento humano e não apenas produzir recursos, autómatos formatados para as imediatas conveniências colectivas.

Esquecem-se todos, porém, de que a dignidade de ser educador ou professor não nasce de nenhuma avaliação, não é atribuível e muito menos comprável. Em educação, não é o hábito que faz o monge: não há instituição, categoria profissional, cargo ou título académico que transforme um indivíduo medíocre num bom professor.

Da mesma forma, espíritos domesticados e servis não produzirão nunca, nem por decreto, espíritos livres, críticos e criativos. É, pois, um disparate que esta avaliação seja por si só uma peça importante na gestão dos recursos educativos. O que este erro evidencia é o pecado original desta avaliação: confunde o problema financeiro da contenção da despesa pública com o problema da competência dos professores.

Ao persistir teimosamente nesta via confusa, o Ministério arrisca-se seriamente a deitar fora o bebé com a água suja, mas parece que ninguém se importa verdadeiramente com o desenvolvimento humano deste país, desde que as estatísticas batam certo, que as contas batam certo e que o ordenado caia certo e, de preferência, mais gordinho.
Fonte: JN

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Artigo de opinião


O MP3 e o telemóvel como ferramentas pedagógicas

Hoje todos os professores têm como formação inicial um curso superior seguido de um estágio pedagógico que pode ser integrado ou não. Todos seguiram na Universidade a via de ensino, em ramos especializados. Resta saber se foram para esta via por vocação ou por falta de alternativas.
Saem classificados com uma média final que resulta das classificações dadas pelos vários professores das disciplinas nos vários anos do curso (nota académica) a que se junta a nota dada pelo professor orientador de estágio. Durante estes anos aprendem também a usar as novas tecnologias para fazer delas ferramentas pedagógicas importantes na sala de aula.
As notas distribuem-se pela escala, como sempre, e é por essas que é feita a colocação. Alguns colocam-se sem dificuldade, outros passam anos à espera de lugar ou vão tendo colocações esporádicas a substituir grávidas e doentes. Milhares ficam sem colocação.
Há professores que colocados ou não continuam a estudar e a interessar-se por melhorar as suas práticas. Alguns são sensíveis ao pulsar do seu tempo, às características da escola de hoje, do aluno de hoje, da comunidade que o envolve hoje.
O professor actual tem de ter esta atitude na sociedade de mudança que nos envolve.
A este propósito posso referir o exemplo da professora Adelina Moura de Braga que foi entrevistada pelo jornalista Jorge Fiel para o DN no dia 7 de Dezembro. Contou que está a fazer uma experiência com 30 alunos do 11º ano, ramo profissionalizante e que já deu uma aula online, a partir de casa, com os alunos espalhados por cafés e outros locais. É o conceito da escola nómada a ser posto em prática. Disse coisas como esta: "o telemóvel e os MP3 são ferramentas de ensino mais usadas que o papel e o lápis" ou " os alunos são nados digitais, nós somos estrangeiros digitais" ou ainda " a aula de português anda na bolso dos meus alunos". Deu os endereços de dois blogues: paepica.blogspot.com e choqueefaisca.blospot.pt. Falou também de O Princepezinho em podcast que pode encontrar-se em discursodirecto.podmatic.com e de exercícios de escolha múltipla e palavras cruzadas para descarregar no telemóvel em geramovel.wirenode.mobi e outros ainda.
Esta professora é uma excepção nesta área e, por enquanto, apenas faz uma experiência com 30 alunos, não sei se este projecto seria exequível pelos professores comuns que têm cinco, seis ou sete vezes mais e muitos outros trabalhos para fazer. Seria bom que ela abrisse as aulas para os outros aprenderem na prática e faço votos que não a desviem para fazer conferências "em seco" que só cansam e cumprem calendário.
Todos os professores têm de compreender que o aluno tem que ser ensinado de acordo com o seu tempo e a sua vivência.

in Expresso (Joviana Benedito Profª. aposentada do Ensino Sec. e autora)